Islands & Natural History
Museu Carlos Machado e Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada
05 February to 18 May 2010
Comissários
João Paulo Constância, Museu Carlos Machado
Conceição Tavares, CIUHCT, a convite da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada
Descrição
A 12 de Fevereiro de 2009 passaram 200 anos sobre a data de nascimento de Charles Darwin, efeméride que abriu as comemorações darwinianas, que celebraram também os 150 anos da publicação da sua obra maior, A Origem das Espécies, uma obra que revolucionou os fundamentos explicativos da evolução da vida na Terra.
Por ocasião do encerramento do ano de comemorações, a abertura ao público da Exposição Ilhas & História Natural é o culminar de um projecto que pretendeu aproveitar a evocação de Darwin e da sua obra para resgatar o património histórico, material e simbólico que os Açores guardam da longa aventura da História Natural.
O Museu Carlos Machado e a Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada propuseram-se celebrar o naturalismo histórico, investindo na pesquisa e na divulgação do rico legado material e documental de que são depositários.
Honrando o seu estatuto de laboratório natural, os Açores ganharam, assim, com o projecto Ilhas & História Natural, patrocinado pelo Governo Regional dos Açores através da Direcção Regional da Cultura, um espaço próprio no mapa nacional e internacional das comemorações darwinianas.
A Exposição Ilhas & História Natural foi inaugurada no dia 5 de Fevereiro e estará aberta ao público até 18 de Maio de 2010, no Núcleo de Arte Sacra do Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada.
Roteiro da exposição Inauguração
Fotografias da Inauguração
Roteiro
A Exposição Ilhas & História Natural é constituída por 6 Núcleos, nos quais se conta a história dos Açores, enquanto objecto e lugar de construção do conhecimento científico da Natureza.
No Núcleo 1 a narrativa remonta à época do descobrimento dos Açores. Descrever a Natureza foi a mais antiga e elementar prática de História Natural. As primeiras descrições da natureza insular e a primeira grande crónica das Ilhas da Macaronésia – Saudades da Terra – integram a explicação deste domínio que se ocupou também do registo dos fenómenos extraordinários e invulgares. Finalmente, a História Natural evoluiu para um ordenamento do conhecimento da Natureza, com a adopção de metodologias científicas a partir do século XVIII.
O Núcleo 2 debruça-se sobre a formação das ilhas dos Açores. No século XVI, Gaspar Frutuoso registou as duas opiniões existentes sobre a origem destas ilhas: uma antiga cadeia montanhosa que as ligara, em tempos, à Europa e a Atlântida, uma ilha-continente, entretanto desaparecido. Mas Frutuoso tinha opinião diferente: os Açores tinham nascido das erupções vulcânicas. Esta convicção visionária só dois séculos mais tarde seria desenvolvida como teoria científica, na Teoria da Terra de James Hutton (1795). A consagração da tese de que a constituição da crusta terrestre se deve ao fogo do interior da Terra, irá permitir, depois, entender os longos processos de evolução da Vida na Terra.
A Europa, onde a cultura do Iluminismo desenvolvera um ímpeto de inventariação e ordenamento do mundo natural, envia viajantes e exploradores para as mais remotas paragens. O Núcleo 3 ocupa-se das primeiras entradas de espécies dos Açores nos grandes inventários sistemáticos, fruto de viagens exploratórias individuais, das grandes expedições Challenger e Talisman e das campanhas oceanográficas do Príncipe do Mónaco. Neste processo, os Açores acolheram os naturalistas vindos do exterior e desenvolveram internamente uma cultura filiada no movimento internacional de desenvolvimento das Ciências da Natureza. Deste fenómeno cultural e científico ficou uma herança institucional – o Museu Carlos Machado – e ficaram publicações, objectos e colecções que nesta Exposição contam histórias únicas de diálogos científicos pessoais e institucionais.
O Núcleo 4 aborda o conhecimento que a História Natural foi construindo – como se povoaram as ilhas de seres vivos? E como se explicam as diferenças entre as espécies insulares e as dos continentes próximos e entre espécies semelhantes de diferentes ilhas? Questões tratadas por Charles Darwin em A Origem das Espécies. O isolamento das espécies insulares e a sua ligação ancestral a espécies dos continentes próximos, das quais divergiram por selecção natural e superioridade adaptativa, foram chaves para a compreensão dos endemismos, ilustrados na Exposição com casos exemplares de espécies endémicas dos Açores – Priolo, Azorina vidali e vários moluscos terrestres.
O Núcleo 5 começa por abordar a vida e a obra de Arruda Furtado, naturalista micaelense que se correspondeu com Charles Darwin, de quem era fervoroso discípulo. A recepção do darwinismo em Portugal, incluindo a controvérsia social, passa obrigatoriamente pela ilha de S. Miguel e por Arruda Furtado. Mas, para além da apropriação científica do darwinismo, as novas concepções dinâmicas da Natureza, que se traduziam em convicções evolucionistas, foram adoptadas por outros naturalistas locais. De entre todos, Francisco Afonso Chaves foi um intérprete destacado de históricos intercâmbios científicos nacionais e internacionais, na construção de colecções de História Natural. E foi também um naturalista clássico, de matriz iluminista, que estudou profundamente os três Reinos da Natureza: o animal, o vegetal e o mineral.
O Núcleo 6 é, precisamente, uma viagem ao interior das colecções, interrogando o seu valor documental, histórico e científico. Um roteiro que parte do deslumbramento do passado para descobrir as contribuições que as colecções naturalistas dão, actualmente, ao desenvolvimento das ciências do futuro.
Fotografias de António Pacheco, Museu Carlos Machado.