Compreender, Descrever, Medir o mundo. Cosmoteoria de António Castel-Branco: Um Curso Lecionado na Universidade de Évora (1588)
- Autoria
Armando Martins (edição, introdução ao livro 2 e notas) e Samuel Gessner (introdução aos livros 3, 4, 5 e revisão científica)
- Edição
- Imprensa da Universidade de Évora
- Ano
- 2022
- ISBN
- 978-972-778-284-0
Coleção Fontes
Resumo
A obra Cosmotheoria (Cosmoteoria) é um curso introdutório à geografia e ao uso de alguns instrumentos científicos (astrolábio, globo celeste, escala altímetra entre outros), que resulta de aulas lecionadas, em 1588, na Universidade de Évora, pelo jesuíta António de Castel-Branco; circulou apenas em manuscrito, pelo que, a presente edição crítica acompanhada de tradução, constitui a sua primeira publicação. O trabalho baseia-se em investigação que abrange diferentes áreas que vão da teoria da crítica textual e da história da ciência e dos instrumentos matemáticos, aos estudos de literatura clássica, humanística e neolatina.
Demonstra-se que a obra de Castel-Branco, alinhada com os objetivos pedagógicos do ensino jesuíta (e ainda que se revele uma singularidade no contexto do ensino ministrado na Universidade de Évora), constitui uma síntese da literatura científica, geográfica e historiográfica, tornada acessível para um público de principiantes (os estudantes de filosofia destinatários do curso de 1588).
Esclarecem-se, no presente livro, quadros conceptuais e metodológicos e questões da geografia e da historiografia de Quinhentos, e obtêm-se resultados relevantes também para o estudo de autores contemporâneos, como Fernández Enciso, em que Castel-Branco se baseou. Demonstra-se ainda o débito da Cosmoteoria para com as obras de Clávio, Juan Pérez de Moya, Florián Ocampo e André de Resende. No que toca à descrição geográfica, argumenta-se que a Cosmoteoria se move em quadros conceptuais distintos na descrição de territórios europeus em face dos não-europeus.
A Cosmoteoria contém aspetos distintivos como a opção de Castel-Branco pela apresentação paralela de procedimentos para o astrolábio e para o globo (uma originalidade no contexto da literatura conhecida sobre esses instrumentos). A obra evidencia ainda a consciência de implicações da reforma gregoriana do calendário, nomeadamente, quanto ao uso de instrumentos.
A edição crítica da Cosmoteoria exemplifica vários problemas da transmissão textual, como as especificidades de obras baseadas em apontamentos de alunos (reportationes) e as da edição de textos científicos (e.g.: interpretação e reprodução de diagramas matemáticos), e discute a relação do texto com outras obras (e.g. o comentário aristotélico dos Conimbricenses).
O presente livro abre uma janela para o conhecimento da geografia e cosmografia tal como se ensinavam, na segunda metade de Quinhentos, na Universidade de Évora.