PROWORK - Projectifying work: network organisation models in contemporary capitalist societies
Equipa
Paula Urze
Inês Navalhas
Instituições
ISCTE-IUL (Proponente)
NOVA.IDT.FCT e CRIA (Instituições parceiras)
Instituto de Sociologia da Universidade do Porto (Instituição participante)
Período
2023-2025
Financiamento
Fundação para a Ciência e a Tecnologia (2022.04212.PTDC)
https://doi.org/10.54499/2022.04212.PTDC
Descrição
As sociedades capitalistas contemporâneas têm sido objeto de importantes e significativas transformações nas últimas décadas, com destaque para a última, que marca o período posterior à crise económica e social com configurações distintas nos vários países a nível mundial, e para a atualidade, atravessada por uma crise pandémica a nível global, com impactos evidentes no trabalho cujo alcance importa aferir. Se é extensa a literatura sobre o mercado de trabalho, em particular sobre as práticas de precarização e flexibilização (Kalleberg 2009; Castel 2009), mais escassa é a literatura que recai sobre modelos de organização do trabalho e sobre relações de trabalho (Lundin et al 2015). De entre estes, sobressai o trabalho por projeto. Por projeto entendemos uma estrutura temporária de organização do trabalho com impactos específicos nas relações de trabalho e nos desempenhos individuais. Em alguns setores da atividade económica e das profissões, como arquitetura e investigação científica, constitui uma modalidade de organização do trabalho associado à natureza das suas atividades (Boutinet 1990; Greer, Samaluk and Umney 2019), mas noutras atividades tem vindo a ser crescentemente adotada como um mecanismo de intensificação da flexibilização das modalidades de organização, das relações de trabalho e dos espaços de trabalho (Eftaxiopoulos 2022). Com esta investigação perspetiva-se analisar as formas de projetificação do trabalho e a forma como elas, enquanto organizações temporárias (Lundin et al 2015; Kuura 2011; 2020), se integram nas modalidades renovadas de organização das sociedades capitalistas contemporâneas e se alastram a um vasto leque de setores da atividade económica e das profissões.O alastramento do trabalho por projeto tem sido efetivo por várias ordens de razões: pelo desenvolvimento e implementação de modelos de organização do trabalho que articulam lógicas de gestão, estilos de liderança, procedimentos e estruturas de relações de trabalho especificamente pensados para tornar o trabalho por projeto eficaz; pela disponibilização de recursos digitais e tecnológicos que potenciam uma comunicação permanente em linha, independentemente, por definição normativa,
do espaço e do tempo (Jensen et al 2016); pela divulgação de um discurso sobre o termo projeto, sobre a flexibilidade do trabalho e da disponibilidade permanente para colaborar (Cicmil et al 2016); o desenvolvimento de atividades profissionais especificamente devotadas à gestão e organização projetual, como é o caso dos apelidados "project managers", "project owners" ou "project developer", o que poderá estar na base de uma nova área de profissionalização. A
projectificação constitui-se pela concepção e adaptação de redes sociotécnicas (Callon, 1986) que articulam elementos materiais e simbólicas em formas modulares facilitadoras da impermanência do trabalho. Assim, a discussão da projectificação exige a problmematização integrada dos diversos eixos sociais técnicos e políticos que explicam as suas configurações. Focando sobre um tipo específico de projetos – "project networks"(Lundin et al. 2015), que são, por definição, interinstitucionais – a investigação adotará uma metodologia baseada em estudos de caso em setores da atividade económica e profissional em que as lógicas de projetificação se têm vindo a densificar: as empresas de consultoria e gestão, as atividades de investigação e desenvolvimento em parceria entre universidades e empresas, as atividades de criação artística e as atividades desenvolvidas no quadro da economia social e solidária. Visa-se, assim, abranger os três pilares axiais das sociedades capitalistas contemporâneas – Estado, Setor Privado e Terceiro Setor – e as áreas de fronteira entre eles. A investigação perspetiva constituir-se como um contributo inovador e social e politicamente relevante, com a construção de uma matriz analítica que permita, com fundamentação empírica, fornecer, discutir e difundir uma renovada visão dos modelos de organização e das relações do trabalho. Visa avançar de forma significativa na análise de projetos em rede e na discussão das novas configurações organizacionais, contribuindo para a expansão do conhecimento neste campo.