Das Comissões Geológicas aos Serviços Geológicos (1848-1970): História e Herança Científica
Equipa
Ana Carneiro (IR); Teresa Salomé Mota, Vanda Leitão
Período
2007–2011
Financiamento
FCT/MCTES, PTDC/HCT/65345/2006
Descrição
Este projecto assenta no trabalho realizado num projecto anterior financiado pela FCT, intitulado Assentar a Primeira Pedra: a Geologia no século XIX, no Contexto da Intendência Geral de Minas e Metais do Reino e das Comissões Geológicas, POCTI/HCT/37703/2001, e tem dois objectivos fundamentais que visam ligar investigação histórica e preservação do património documental. Sem excluir a publicação de trabalhos de outro tipo e outras actividades, o principal objectivo deste projecto é a publicação de um livro sobre a história dos serviços geológicos, com o título provisório O Chão que Pisamos: História dos Serviços Geológicos (1848-1974), bem como o prosseguimento da catalogação do acervo documental do ex-Instituto Geológico e Mineiro, hoje INETI (Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação), e sua conservação preventiva.
Com o livro, pretendemos traçar uma parte significativa da história institucional da geologia em Portugal, aquela que se refere às sucessivas comissões e serviços encarregados do reconhecimento geológico do território continental e da sua representação cartográfica. Formalmente ligados à administração central, imersas em políticas de controle do território e materializando um dos primeiros exemplos do que hoje designamos por ‘Big Science’ pelos consideráveis meios envolvidos, o estudo destas instituições revela não só as tensões e contradições locais entre diversas agendas políticas, económicas e profissionais determinantes para a sua maior ou menor eficácia, mas também entre países e regiões já que as formações geológicas transcendem fronteiras administrativas e nacionais. Foi nesta trama, feita de negociações, consensos e equilíbrios instáveis que os serviços geológicos de um modo geral e os portugueses, em particular, tiveram de responder às diversas solicitações nacionais e internacionais, o que torna a publicação da sua história do maior interesse. O período temporal abrangido permite, ainda, analisar a evolução e o destino de uma instituição que, fazendo parte da burocracia do Estado é simultaneamente uma instituição científica, cuja actividade se desenvolveu no quadro de três regimes políticos distintos, a Monarquia Constitucional durante a Regeneração, a Primeira República e o Estado Novo.
O livro será escrito de forma acessível a especialistas e a leigos. Do seu conteúdo fará parte a definição dos diferentes contextos históricos em que decorreram as actividades dos sucessivos serviços geológicos, bem como a articulação dos diferentes enquadramentos institucionais, estrutura, organização e orçamentos com as diversas agendas políticas, económicas e profissionais (geólogos e engenheiros de minas). Será dado especial relevo à produção cartográfica, principal objectivo de uma instituição deste tipo, na medida em que os mapas são objectos complexos, quer pelo seu conteúdo científico, quer porque cristalizam tensões entre diversos actores, culturas geológicas e interesses. As práticas geológicas no seio da instituição serão articuladas com o contexto científico internacional, sendo também objecto de análise o papel dos geólogos dos serviços geológicos na cena internacional, nomeadamente nas discussões e negociações em que se envolveram, de que é exemplo a normalização da linguagem verbal e visual da geologia e a produção de cartografia internacional. Finalmente, o envolvimento do homem comum no levantamento geológico e as percepções e reacções de diversos sectores da sociedade portuguesa – população, elite e classe política – ao trabalho de campo, reconhecimento geológico e cartografia serão analisados.
No âmbito da catalogação, pretende-se continuar a construção do catálogo de manuscritos já acessível on-line, e ainda efectuar a digitalização e disponibilização on-line dos documentos usados no livro a publicar (correspondência pessoal e institucional, orçamentos e folhas de despesa, correspondência científica com geólogos de diversos países, cadernos de campo, desenhos de cortes e de fósseis, fotografias e mapas, publicações científicas, etc.). Pretende-se ainda renovar o protocolo com o Instituo Geográfico Português (IGP) a fim de se continuar com a digitalização dos mapas do arquivo, que se juntarão à colecção de mapas geológicos portugueses do século XIX, digitalizada no quadro do protocolo assinado num projecto anterior.
No campo da conservação preventiva, pretende-se ainda continuar o acondicionamento dos manuscritos e mapas, e efectuar o restauro, que consideramos urgente, de pelo menos 5 das primeiras cartas geológicas portuguesas, dado o estado avançado de degradação destas peças de tão grande interesse científico, histórico e patrimonial.