Anthropolands - Construir o Antropoceno; o Papel da Ciência, Tecnologia e Medicina Coloniais na Alteração da Paisagem Africana
Equipa
Maria Paula Diogo (IR), Ana Simões, Ana Carneiro, Ana PaulaSilva, Ana Rita Lobo, André Pereira, Bruno J. Navarro, Catarina Madruga, Cláudia Castelo, Davide Scarso, Hugo Silveira Pereira, Isabel Amaral, Ivo Louro, Jaume Valentines-Alvarez, José Câmara Leme, Luís Costa, Maria do Mar Gago, M. Luísa Sousa, Marta Macedo, Paula Urze
Período
2016–2018
Financiamento
Fundação para a Ciência e Tecnologia (PTDC/IVC-HFC/6789/2014)
Resumo
O projecto Anthropolands procura contribuir para o debate e literatura internacional sobre o tema do Antropoceno partindo de uma visão da História da Ciência, Tecnologia e Medicina (CTM) baseada em fontes de origem portuguesa.
Pretende-se usar o império colonial africano português (i) como caso de estudo da construção de um Neo-Portugal (seguindo a terminologia de Neo-Europes de Crosby, 1993), através da intervenção tecnocientífica como instrumento de “domesticação” dos territórios coloniais e (ii) olhar para estas mudanças na paisagem africana como laboratório de reflexão sobre o conceito de Antropoceno.
Contexto
O debate em torno do tópico do Antropoceno sob a perspectiva das Ciências Sociais e Humanidades foi primeiramente lançado pela Haus der Kulturen der Welt (HKW) e pelo Max-Planck-Institut für Wissenschaftsgeschichte (MPIWG), em Berlim, no ano de 2013, tendo sido proposto debater-se numa abordagem interdisciplinar e na longue-durée, um tema que já há algum tempo vinha a desenhar-se como crítico na Filosofia e na Ética contemporâneas – o da singularidade tecnológica.
O colapso da distinção entre os horizontes do humano, do tecnológico e do geológico, assim como a evidência de que o paradigma do progresso (tal como o temos entendido desde Kant) tem componentes que até muito recentemente não tinham ainda sido equacionados ou debatidos, obrigam hoje historiadores, sociólogos, antropólogos e filósofos a olhar e a pensar sobre um conceito que, até agora, nos habituámos a ver ligado à ficção científica e à cultura popular.
A História da CTM rapidamente se colocou numa posição privilegiada para trabalhar sobre este tema, uma vez que alguns dos seus percursos de investigação se debruçavam já sobre a relação entre a acção humana, através do expertise tecno-científico, e o universo físico sobre o qual esta se exerce.
A ideia baconiana do “compreender a natureza para a dominar” tem em si mesmo o germe de um possível conflito ente o natural e o tecnológico que está no centro da actual epistemologia do Antropoceno. A investigação levada a cabo até agora no âmbito da História da CTM tem sido feita, no plano temático, em torno de clássicos da História Ambiental como Silent Spring, de Rachel Carson (Carson, 1962) e do Imperialismo Ecológico, como Ecological Imperialism: The Biological Expansion of Europe, 900-1900, de Alfred Crosby (Crosby, 1993). Quanto ao plano geográfico, a investigação tem-se desenvolvido principalmente no mundo anglo- saxónico, nomeadamente no Império Inglês e nos Estados Unidos da América.
Metodologia
Considera-se este projecto como inovador pela sua abordagem em dois eixos: por um lado, propõe- se o uso de fontes portuguesas e do Império Africano português como objecto de estudo para o debate internacional sobre o Antropoceno e, por outro, em termos metodológicos, procura abordar- se a formação das Neo-Europes a partir de três vertentes:
- A construção de infra-estruturas coloniais;
- A doenças e a medicina tropicais;
- A reordenação do território agrícola colonial.
Pretende-se usar a experiência já consolidada da equipa e os dados recolhidos e tratados em projectos anteriores (tanto de origem nacional como internacional) para mudar o nível de análise, reinterpretando-os à luz de uma nova grelha conceptual e de uma nova problemática, complementando-os posteriormente com novos dados que permitam tornar a abordagem mais densa.
Este rationale, ao centrar-se no caso de um país considerado periférico e ao retomar o conceito de Europeanizing the World/Provincializing Europe (Chakarbarty, 2000), mantém o projecto integrado nas redes de investigação que orientam, metodologica e conceptualmente, os investigadores envolvidos (STEP - Science and Technology in the European Periphery e ToE – Tensions of Europe); deste modo permite-se, adicionalmente, contribuir em novos fóruns internacionais, nomeadamente o The Anthropocene Project e redes de História Ambiental.
Igualmente contribuirá para os objectivos traçados para a linha de investigação Experts, Institutions and Globalization do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT), recentemente avaliado com a qualificação de Excepcional, revelando uma das facetas do papel da tecnociência na configuração do mundo contemporâneo.
Em termos de grelha metodológica, e uma vez que, estruturalmente, o projecto parte do pressuposto que a intervenção humana se tornou ela própria numa força de carácter natural, optamos pela actor- network theory para indagarmos como, em que geometrias e quem (humano e não humano) intervém no processo de domesticação da natureza no mundo contemporâneo.
A equipa interdisciplinar que se propõe tem uma forte experiência anterior, estando sólida e activamente integrada em redes internacionais reconhecidas e tendo participado em projectos anteriores, cuja investigação subjaz à presente proposta.