Horticultura para Todos
Sala de Referência da Biblioteca Nacional de Portugal
25 maio até 04 outubro 2016
Sinopse (citada da BNP)
Apesar de atualmente pouco se ouvir falar de horticultura, possivelmente por ter sido incorporada na agronomia, e o grande público a relacionar sobretudo com o cultivo de vegetais, esta foi, na segunda metade do século XIX, um sofisticado ramo do saber, indicador do nível civilizacional da nação.
No contexto do Portugal liberal, o desenvolvimento da horticultura passou a ser estandarte do progresso e personalidades inusitadas possibilitaram a aproximação ao grande público desta ciência aplicada. O que era uma arte das elites do Antigo Regime passou então a ser conhecimento de horticultores que ambicionavam equiparar-se a botânicos, de amadores que viam no cuidar das plantas um modo de elevação moral e social, e das classes urbanas que, não tendo quintas, queriam aproximar-se da natureza e trazê-la para dentro dos seus andares citadinos.
Revistas de horticultura, a par de idas a jardins públicos e visitas a exposições de horticultura, contribuíram de forma eficaz para disseminar o interesse pela horticultura. Duas personalidades ímpares lideraram este movimento: José Marques Loureiro, no Porto, e Francisco Simões Margiochi, em Lisboa. Esta mostra aborda estes dois vultos, os seus círculos, a sua rede de contactos internacionais, as suas atividades e, sobretudo, as publicações que tinham como objetivo divulgar a ciência da horticultura junto do grande público.
A exposição organiza-se em torno de oito pequenos núcleos. O primeiro é dedicado às primeiras tentativas de divulgar conhecimentos práticos de horticultura em almanaques, guias, manuais, lunários, diários, especificamente vocacionados para jardineiros e hortelãos, horticultores, «pomeiros», lavradores, agricultores e botânicos.
O segundo evoca o contexto internacional das revistas de horticultura mais paradigmáticas, sobretudo francesas e inglesas, como The Gardener’s Chronicle, a Revue Horticole, o Journal of the Royal Horticultural Society e o Journal de la Société Nationale d’Horticulture de France, publicadas no âmbito das Sociedades de Horticultura, e o seu papel no desenvolvimento e promoção desta área do saber.
O terceiro e quarto núcleos revelam duas das facetas mais visíveis deste universo: a dos jardins públicos, como o Passeio da Estrela, o Parque da Liberdade e o Passeio do Campo Grande; e a das exposições de horticultura, com destaque para as realizadas no Palácio de Cristal do Porto, e o modo como contribuíram para o progresso da horticultura em Portugal.
Segue-se o quinto núcleo dedicado a José Marques Loureiro, que desenvolveu um programa científico a partir do seu estabelecimento comercial – o Horto Loureiro –, como se de um centro de investigação dos tempos modernos se tratasse, que incluiu a publicação do Jornal de Horticultura Prática, a participação em exposições, onde ganhou inúmeros prémios, a publicação de artigos e a realização de conferências.
O sexto núcleo intitulado «Todos querem ser jardineiros» evoca as iniciativas dirigidas a diferentes públicos, convidando, sugestionando e incitando mulheres e crianças a jardinar. O sétimo núcleo segue a mesma tendência e dá a conhecer uma série de pequenos artefactos como aquários e feteiras para casa, caixas de plantas para janelas, vasos com plantas através de mesas, mini-estufas, fogões de sala ajardinados, que revelam, pela sua dimensão, função e estilo, a intenção de levar o gosto pela horticultura às classes médias.
O último núcleo é dedicado à Real Sociedade Nacional de Horticultura de Portugal, às suas atividades e aos seus sócios. Destacamos, então, uma outra figura, Francisco Simões Margiochi, presidente da Sociedade, que contrabalança, em Lisboa, a liderança de José Marques Loureiro no Porto. Neste núcleo pretendemos dar a conhecer a curta e atribulada história da Real Sociedade de Horticultura com vigência entre 1898 e 1906, em contraste com a ambição dos seus múltiplos projetos, ambições e atividades.
Esta mostra, comissariada por Ana Duarte Rodrigues, visa enaltecer a vontade de popularizar a arte e a ciência da horticultura na segunda metade do século XIX em Portugal, como consequência de um contexto histórico específico, mas sobretudo em resultado da paixão, do empreendedorismo e do conhecimento de um conjunto de personalidades.
Passagem da mostra para a Biblioteca Almeida Garrett
A 9 de Março de 2017, foi inaugurada uma nova versão desta exposição na Biblioteca Almeida Garrett no Porto, inserida no programa da Festa das Camélias, ocasião em que foi também lançado o livro de Ana Duarte Rodrigues, Horticultura para Todos. Eis algumas fotos da ocasião: