A Outra Margem da NOVA
- Autoria
Maria Paula Diogo, Ana Carneiro, Isabel Amaral, Paula Urze, André Pereira, Ivo Louro, e João Machado
- Edição
- NOVA.FCT Editorial
- Ano
- 2017
- ISBN
- 978-989-99528-7-4
Sobre o livro
Parte da reforma do ensino de 1973 de Veiga Simão, a Universidade Nova de Lisboa, ao contrário das restantes “novas”, estabeleceu-se num território já reclamado por universidades estabelecidas em 1911, pela República, a Universidade de Lisboa, herdeira da Escola Politécnica, e o Instituto Superior Técnico, herdeiro dos Institutos Industrial e Comercial. Neste sentido, a NOVA, teve de enfrentar desafios suplementares no sentido de encontrar o seu espaço próprio, sem um apoio preferencial por parte das autoridades locais e naturalmente “hostilizada” pelas escolas já instaladas em Lisboa.
A estratégia seguida pela NOVA para se afirmar passou pela renovação da oferta pedagógica, com a criação de cursos que não existiam na estrutura universitária tradicional e pela escolha de um campus de inspiração anglo-saxónica, situado fora da cidade, embora no espaço da grande Lisboa. Em 1977, quatro anos após a sua fundação, devido a incompatibilidades científicas e pessoais, o projecto integrador da NOVA desfez-se, dando lugar a uma estrutura tradicional de quatro faculdades: a Faculdade de Ciências e Tecnologia, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, a Faculdade de Economia e a Faculdade de Ciência Médicas. Com faculdades institucionalmente independentes, o projecto de um campus comum ruiu e só a FCT se mudou para o Monte de Caparica. É esta história, do outro lado do rio, que nos propomos contar.
A obra A outra margem da NOVA. A Faculdade de Ciências e Tecnologia no campus da Caparica propõe-se, na comemoração dos 40 anos, recuperar alguns dos tópicos que foram abordados nas comemorações dos 30 anos e relê-los na perspectiva do historiador da ciência e da tecnologia. O projecto envolve uma equipa interdisciplinar e multigeracional, o que permitiu leituras diferentes dos 40 anos da FCT, construindo-se pontes e rasgando-se caminhos de interpretação que pensamos contribuir para melhor perceber a identidade da FCT.
São quatro os tópicos focados:
- O projecto das universidades novas no âmbito da reforma do ensino de Veiga Simão.
- A FCT no Campus de Caparica: a construção de uma identidade pedagógica e de investigação própria.
- De espaço da Universidade Nova a campus da FCT: arquitectura e poder no Monte de Caparica.
- Os alunos da FCT: estratégias de uma vivência distinta face à academia clássica
No capítulo 1, analisamos o percurso que levou à criação das novas universidades e da UNL em particular, tendo em conta a reforma Veiga Simão, o papel de organizações internacionais na definição das políticas educativas nacionais, os diferentes modelos de ensino superior e de concepções de universidade, a intervenção de académicos que realizaram estudos pós-graduados em universidades estrangeiras e a importância dos professores cujas carreiras se iniciaram em universidades ultramarinas, ou em instituições dos países onde se exilaram durante a ditadura.
No capítulo 2, centramo-nos na FCT. Sozinha no campus de Caparica, a FCT desenvolveu, num primeiro momento, estratégias específicas de sobrevivência no panorama das faculdades de ciências e engenharias, apostando em cursos inovadores, únicos e excêntricos às universidades tradicionais — Engenharia Informática, Engenharia do Ambiente e Engenharia de Produção Industrial — e incluindo no seu campus a área de ciências sociais aplicadas, retomando a aproximação das “duas culturas” que havia estado na base da criação das universidades novas.
No capítulo 3, percorremos os espaços arquitectónicos reais e imaginários que começaram por construir a identidade da NOVA e acabaram por materializar a FCT, e acompanhamos o modo como o campus do Monte da Caparica foi sendo edificado através de decisões políticas, territoriais, pedagógicas e empresariais, além de arquitectónicas. Começando pelo plano inicial de conjunto do Eixo Equipado dos anos 70, passando pela inauguração do Conjunto Sul no início de 1980 e seguindo pelos dois planos urbanos que orientam a entrada da faculdade no séc. XXI, traçamos uma cronologia arquitectónica dos 40 anos da Faculdade de Ciências e Tecnologia e identificamos o que mudou, o que se manteve e o que foi abandonado da visão original para a Universidade do Sul.
No capítulo 4, olhamos para os alunos. Ao longo dos seus 40 anos, a FCT cresceu de um grupo de alunos de licenciatura abaixo da centena para perto de 8 mil alunos. Desde cedo, estes alunos sentiram necessidade de desenvolver estratégias de afirmação dos seus cursos no mercado de trabalho e no contexto da engenharia nacional e promover o espírito inovador das suas licenciaturas, com uma participação ativa na renovação das práticas pedagógicas, incluindo o retorno à Faculdade após os cursos.
Destacamos o papel da Associação de Estudantes e a sua estratégia de inserção numa Faculdade organicamente distinta das suas congéneres “clássicas”. Através de um contínuo ininterrupto de publicações estudantis, analisamos as suas principais preocupações, as pontes que estabeleceram com movimentos sociais, instituições e empresas, a adoção de tradições académicas, e o debutar de várias iniciativas que se tornaram emblemáticas para a faculdade.
A memória da Faculdade foi já tratada por diversas vezes por alguns dos protagonistas da presente obra, quer em termos pontuais (discursos ou notas em momentos comemorativos), quer em breves apontamentos gerais, quer, ainda, na obra que foi publicada por altura dos 30 anos FCT, da autoria de Hermínio Duarte-Ramos, Caminho de Excelência, em que o testemunho de vivência pessoal se liga aos registos oficiais. A outra margem da NOVA. A Faculdade de Ciências e Tecnologia no campus da Caparica acrescenta a estas contribuições uma visão de historiadores interessados na instituição não só pela sua história per se, pelo seu significado enquanto memória, mas como parte de um contexto mais global, nacional e europeu, que se pretende analisar e compreender.
(Excerto das Palavras Iniciais)