O Triunfo da Baquelite: Contributos para uma História dos Plásticos em Portugal
Equipa
Período
2016–2018
Financiamento
Fundação para a Ciência e Tecnologia (PTDC/IVC-HFC/5174/2014)
Descrição
Este trabalho propõe-se investigar aspectos da história dos plásticos em Portugal, alicerçando-se em estudos técnico-científicos, industriais, histórico-sociais, de história da ciência e da tecnologia e de cultura material. Coordenado pela investigadora que em Portugal tem desenvolvido trabalho considerável sobre a história dos plásticos, este projecto interdisciplinar conta com uma equipa de investigadores especializados em diversas áreas como história da ciência e da tecnologia, história social, antropologia, arqueologia industrial, química e museologia e sociedade. Através dos seus estudos parcelares, permitirão realizar uma história total dos plásticos, trazendo luz sobre: os aspectos tecnocientíficos dos plásticos (e a sua comunicação ao grande público); a necessidade de preservar os objectos de plástico; a importância do plástico na evolução do design industrial, na estratégia das empresas e na vida quotidiana; a relação da indústria de plásticos com os seus actores (trabalhadores e elites locais) e com outras indústrias (eléctrica e de vidro); as questões energéticas e ambientais relacionadas com os plásticos. Tendo como um dos seus objectivos a criação de um museu, este projecto beneficia do trabalho histórico já realizado e também da identificação já feita de quais as fábricas e outros locais de onde serão recolhidos os objectos e materiais que irão constar do museu. Este projecto contará com o apoio da iniciativa privada, nomeadamente de instalações já existentes, em Santo Tirso, Norte de Portugal.
Os plásticos penetram diariamente no quotidiano sob as mais diversas formas e funções. Mesmo quem possui uma imagem negativa dos plásticos e os concebe como sinónimos do artificialismo de uma de sociedade, usa-os abundantemente. Em geral, o público não os vê como uma classe especial de materiais talvez porque o plástico esteja associado apenas a objectos pouco dispendiosos e de fácil acesso. Porém deve muito à investigação científica e tecnológica: é um polímero sintético, construído pelo homem, fruto da investigação aturada de gerações de cientistas. Para produzir os materiais sintéticos, o homem pode fazer uma lista de propriedades que gostaria de incorporar num material e, dentro de certos limites, personalizá-lo. Contudo, tal tarefa exige o maior investimento criativo, seja do químico, do físico, do engenheiro, do designer e do historiador, num campo cada vez mais aberto à exploração de novos materiais e ao aperfeiçoamento dos existentes.
Assim sendo, uma das finalidades deste projecto é estudar o impacto dos plásticos na sociedade portuguesa, desde a sua chegada em meados de 1930, através da baquelite, primeiro verdadeiro plástico, num país agrícola, sem investigação química e tecnológica nem tradição industrial, em contraste com os países industrialmente mais avançados, onde o plástico já se assumia como emblema da modernidade. Com a baquelite, tanto o período inter-guerras como o pós-guerra assistem à massificação do consumo de termoplásticos como: aminoplásticos, poliestireno, policloreto de vinilo, polietileno, acrílicos e teflon. Após a II guerra mundial, muitos objectos da primeira geração acabaram por desaparecer e outros não se encontram em bom estado de conservação, devido a alterações químicas ou físicas. Para os preservar, teria interesse recuperá-los através de instituições, empresas e/ou entidades privadas empenhadas na sua divulgação.
Tendo como ponto de partida a Baquelite Liz, empresa que labora nesta área desde 1940, é nosso intento realizar tarefas como o levantamento e a catalogação do seu espólio, respectivos modos de fabrico e seu impacto na vida social e cultural da região, expandindo-se este trabalho a outras empresas congéneres. Prevê-se que a cidade de Leiria seja o primeiro local onde se inicie a investigação por ter sido a região onde nasceu a indústria transformadora dos plásticos, havendo fortes possibilidades de aí ser criado um espaço com vista à conservação da memória do plástico, apontando, numa lógica descentralizadora, para a eventualidade de um futuro museu.
Foram contactadas instituições que se mostraram bastante receptivas à participação neste projecto: a Rede de Química e Tecnologia (REQUIMTE) - Departamento de Conservação e Restauro da Faculdade de Ciências e Tecnologia/Universidade Nova de Lisboa (FCT-UNL), a Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP), a Associação Portuguesa de Museologia (APOM), a Associação Empresarial da Região de Leiria (NERLEI), importante elo de ligação com eventuais parceiros dessa região – indústrias, Câmara Municipal, Instituto Politécnico de Leiria, Comunidade Intermunicipal do Pinhal Litoral (CIMPL), empresários, nomeadamente, do conselho de Administração da Baquelite Liz. No seu todo, é nosso propósito reflectir sobre a relação do homem com estes materiais.