Reconstruindo o Continente Africano: a Engenharia Portuguesa e a Apropriação dos Território Coloniais de Angola e Moçambique (1870-1974)
Equipa
Maria Paula Diogo (IR), Isabel Maria da Silva Pereira Amaral, Ana Paula Silva, Bruno J. Navarro, M. Luísa Sousa, Álvaro Ferreira da Silva
Período
2012–2015
Financiamento
FCT/MCTES, PTDC/HIS-HCT/118359/2010
Descrição
O objectivo deste projecto é compreender o uso das competências da área da engenharia como elemento crucial da estratégia portuguesa de apropriação e gestão dos territórios e recursos em África, nomeadamente Angola e Moçambique, entre meados do século XIX e o meados dos anos 70 do século XX. O pressuposto fundamental deste projecto é o de considerar a tecnologia como o elemento crucial da influência da Europa no mundo, transformando-a num "irresistible empire” (Grazi, 2006). A construção das infra-estruturas nos territórios coloniais é um dos pontos mais relevantes deste processo, nomeadamente a partir do Novo Imperialismo (Headrick, 1981). Usando a grelha conceptual de análise dos LTS (Large Technological Systems) e os conceitos de “technopolitics”(Hecht, 1998) e de "portals of globalization" (Middell,2010) como estruturante deste estudo, propomo-nos analisar o uso de competências tecnológicos, fundamentalmente na construção de infra-estruturas, como forma de consubstanciar uma agenda política.
Este trabalho desdobra-se, pois, em dois focos complementares: (1) estratégias de ocupação e desenvolvimento nas colónias: a Conferência de Berlim, ao consagrar a “ocupação efectiva” das colónias em detrimento dos direitos históricos obriga as potências coloniais a desenvolverem estratégias de apropriação real dos seus territórios ultramarinos. Portugal, um país periférico no contexto das potências europeias, é confrontado com a necessidade de marcar e consolidar a sua presença “material”, “física” nas colónias, seguindo, por um lado, as opções nacionais da Regeneração, no sentido da implementação de uma política de melhoramentos materiais, inscrita no racional das “missões civilizadoras” e, por outro, as tendências internacionais de utilização da ciência e da tecnologia, como “ferramentas do Império” (Headrick, 1981);(2)tradução do poder colonial em poder na cena europeia; relações"centros"/"periferias", no quadro dos processos de mundialização/ nacionalismos, que marca o século XIX e o início do século XX: Portugal é, no contexto da Europa, um país pequeno e periférico, cuja afirmação na cena europeia passou, largamente, pela capacidade de capitalizar as potencialidades das suas colónias, nos planos político, económico e geoestratégico, funcionando, em relação ao seu império, como um centro de difusão tecnológica. Esta posição dual, num contexto simultâneo de fortes nacionalismos e de crescente mundialização dos saberes e práticas tecnológicas, faz de Portugal um caso particularmente importante de ser compreendido.
A abordagem que se propõe neste projecto – ver o processo colonial através das lentes da História da Tecnologia - é, para o caso português, completamente inovadora. Em termos concretos, a presente investigação centrar-se-á numa selecção de estudos de implementação das designadas “tecnologias da terra” e “tecnologias do Estado” (Hecht, 2001) – o eixo caminhos-de-ferro/ estradas/portos, telégrafos, electrificação e estruturas urbanas - pretendendo-se analisar a construção de uma paisagem moderna e pró-industrial em África, os processos transferência/adaptação/resistência de tecnologias europeias em territórios coloniais e compreender o peso da “experiência africana” no modelar do perfil da engenharia portuguesa. Variados agentes são incluídos na reconstituição desta circulação de tecnologias, desde o papel crucial do Estado até à presença mais atomística, mas não menos importante, dos agentes privados, nomeadamente através da presença de várias empresas, nacionais e estrangeiras, na infra-estruturação e ocupação do território.
A equipa tem uma forte experiência anterior, estando sólida e activamente integrada na rede Tensions of Europe, esteio europeu dos estudos sobre a natureza e a dinâmica das relações entre a Europa e o resto do mundo, a partir de questões tecnológicas. O reconhecimento internacional e nacional da qualidade da investigação já produzida levou a PI a ser convidada para co-autora do volume Europeans Globalizing e a investigadora Ana Paula Silva a obter uma bolsa de pós-doutoramento centrada na electrificação em África, que inclui uma estada no Imperial College. O investigador júnior Bruno Navarro tem como tema da sua dissertação de doutoramento em curso a construção da rede portuária e ferroviária em Angola e Moçambique. Da equipa constam ainda uma doutoranda que tem vindo a trabalhar sobre estruturas rodoviárias e 2 investigadores seniores que permitirão, com as suas pericialidades específicas, os necessários cruzamentos com dois aspectos de fronteira em relação a este tema: a medicina tropica e a dimensão económica dos projectos infra-estruturais.
O projecto espera reforçar e ampliar o estudo sobre infra-estruturas coloniais em África, contribuindo para o debate internacional em torno da compreensão da dinâmica complexa que subjaz ao processo de “Europeanizing the World/Provincializing Europe”.