CATTLE IN MOTION: Conhecimento, circulação e ambiente na história do gado bovino em Portugal, 1750-1960
Equipa
Bárbara Direito
Inês Gomes
Leonardo Aboim Pires
Marta Nunes Silva
Período
2025-2026
Financiamento
Fundos nacionais através da FCT– Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., 2023.12421.PEX
DOI: https://doi.org/10.54499/2023.12421.PEX.
Descrição do Projecto
Pesquisas anteriores têm mostrado que a transição do Antigo Regime ocorrida desde a década de 1830 em Portugal trouxe consigo um conjunto de mudanças políticas, económicas, demográficas e agrárias significativas. O país manteve-se, no entanto, essencialmente agrícola até à década de 1950, contrariamente a outros casos europeus. Apesar de algumas investigações fundadoras, o papel específico do gado bovino neste processo permanece em grande medida por compreender devido a um enfoque excessivo da historiografia em redor da agricultura. Poucos trabalhos têm, além do mais, ido para lá da análise de fontes impressas, deixando assim vários arquivos por explorar.
Muitos elementos apontam no entanto para a importância do gado na história de Portugal desde finais do século 18. A expansão das culturas cerealíferas desde o século 19, fundamentais na dieta nacional, foi conseguida graças ao trabalho de milhares de cabeças de bovinos. Considerada a mais importante espécie domesticada no início do século 20, o gado bovino era sobretudo utilizado para trabalhos na agricultura, desempenhando também papéis sociais relevantes. Em meados do século 19, especialistas em zootecnia identificaram várias raças bovinas autóctones e os seus solares. Muitos bovinos nacionais eram na realidade trazidos da Galiza, engordados em Portugal e, depois, exportados para Inglaterra. Na década de 1950, devido à industrialização, à urbanização e à emigração, mas também à mecanização, o “velho mundo” em que os bovinos autóctones ocupavam um papel de destaque estava gradualmente a desaparecer: era um mundo marcado pela pobreza atávica, crises de fome periódicas e uma distribuição desigual da terra. Aumentando de 5 para 15 desde o início do século 20, em 2004 a maioria das raças bovinas portuguesas estavam em risco, tendo os efectivos sido substituídos por animais mais produtivos de raças importadas ou cruzadas, exploradas em sistemas de produção intensivos. Esforços para preservar estas raças, consideradas parte integrante do património cultural e genético nacional - nomeadamente através de estudos genéticos filocronológicos e apoios financeiros a associações de criadores -, coexistem actualmente com políticas nacionais e europeias que visam diminuir a emissão de gases de estufa, e em que a redução da pecuária bovina é uma prioridade.
O projecto CATTLE IN MOTION propõe-se colocar a pecuária bovina no centro da história de Portugal através de um recorte cronológico e geográfico amplo, que abrange o período entre 1750 e 1960 em Portugal continental mas também nos Açores. Embora apoiado sobretudo em fontes nacionais, nomeadamente localizadas em arquivos locais, um dos objectivos do projecto é integrar o caso português nas dinâmicas regionais, europeias e globais discutidas na historiografia internacional.
Situado na confluência de vários sub-campos, sobretudo a história da ciência, a história ambiental, a história da agricultura, a história da alimentação e a história social, o projecto dá prioridade a três ângulos de análise interligados:
O primeiro ângulo, “Criação e raças”,
- explora o modo como tanto o conhecimento local como o conhecimento zootécnico tiveram influência sobre a evolução das raças portuguesas; e o percurso do pensamento sobre hereditariedade e reprodução em Portugal;
- acompanha a translocação e aclimatização em diferentes regiões de bovinos exóticos, centrando-se no caso da raça Frísia, que passou a dominar o sector leiteiro na região de Lisboa, do Porto e nos Açores;
- estuda o papel de raças autóctones e exóticas nos diferentes projectos de modernização agrícola desde 1750.
O segundo ângulo, “Produção, comércio e abastecimento”,
- identifica áreas de especialização económica em redor das várias fases do processo de mercantilização dos bovinos e dos produtos de origem bovina;
- estuda os padrões comerciais internos e externos, nomeadamente aqueles que ligam Portugal a Espanha, Inglaterra ou às então colónias, sobretudo o Brasil e Angola;
- estuda as causas e as consequências de diferentes carestias de carne e de leite de vaca desde 1750, assim como as respostas oficiais a essas crises, por exemplo pelas autoridades municipais.
O terceiro ângulo, “Ambientes bovinos”,
- investiga os elementos que definem os solares das raças autóctones portuguesas e as suas transformações;
- estuda os solares das raças exóticas em Portugal;
- analisa a evolução de discursos políticos, económicos e científicos em torno dos solares de raças bovinas e as políticas que visaram transformar, manter e preservar esses solares.
Contacto: cattleinmotionproject@gmail.com