Investigando a natureza de uma carta portulano com olhar cartométrico
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Edifício C6, Sala 6.2.52
02 fevereiro 2018 · 10h30
Sinopse
Santo Agostinho dizia que se lhe não perguntassem o que era o tempo ele saberia o que era, mas se lhe pedissem uma explicação, aí ficaria falto de palavras.
Ora, o mesmo sucede com uma aparente trivialidade: uma carta náutica medieval do Mediterrâneo. Uma carta portulano (outro nome dado a estas cartas) parece uma representação realista desse mar, consentânea com a navegação aí praticada na Idade Média. Mas se olharmos mais de perto, veremos que a aparência realista não é o primeiro objectivo. Fica-nos então a pergunta: o que é uma Carta Portulano?
Os historiadores usam dos seus métodos para ler textos, iconografia, datar documentos, saber da sua transmissão, e muitas mais coisas se lhe podem acrescentar. Mas os homens que desenhavam as cartas não se separavem em categorias de estudo, mas no que a vida exigisse: uns preparavam as peles de ovelha, outros marcavam as linhas fundamentais, outros ainda desenhavam as costas, escreviam os nomes, iluminvam o interior com representações mais ou menos imaginárias, consoante a cultura de cada um, do cliente ou de um público mais alargado. O que não podiam certamente fazer era causar um naufrágio. Aqui entra o lado geométrico da composição, cópia e actualização de uma carta, todos problemas em aberto. Mesmo que as palavras lhes faltassem, esse lado geométrico é uma realidade essencial da vida dos cartógrafos e da composição das cartas, sempre encoberta pelos aspectos mais chamativos da tradição histórica.
Aqui pois se verá como uma investigação histórica se socorre da geometria, usa um computador e tenta, quiçá, pensar como um marinheiro, para vislumbrar o mundo pelos olhos de um cartógrafo medieval.