"A preservação do uso: o papel da conservação para a história das práticas científicas"
NOVA FCT | Ed. Departamental | Sala 039
14 maio 2025 · 14h00

O Departamento de Conservação e Restauro (DCR) e o Departamento de Ciências Sociais Aplicadas (DCSA) da NOVA FCT convidam para o seminário: "A preservação do uso: o papel da conservação para a história das práticas científicas".
Este seminário insere-se no âmbito da investigação desenvolvida nos centros CIUHCT, LIBPhys e VICARTE, e integra as atividades do CORES – Programa Doutoral em Conservação e Restauro do Património e do Programa Doutoral em História, Filosofia e Património da Ciência e da Tecnologia.
Resumo
O estudo da utilização de instrumentos na investigação e no ensino da ciência é fundamental para a história das prácticas científicas. No entanto, para que este contributo seja plenamente efectivo, é essencial reavaliar a abordagem actual ao estudo material e à conservação dos instrumentos científicos.
Nas últimas décadas, o interesse pelos instrumentos científicos, como fontes primárias de informação tem crescido significativamente e é hoje amplamente reconhecido (e.g. Ramos Carrillo et al. 2024; Suay-Matallana 2019). Contudo, a relação entre o instrumento físico, enquanto objecto, e o seu papel nas actividades científicas - incluindo a forma como foi utilizado, o seu desempenho e a sua adaptação a diferentes locais e laboratórios - continua a ser pouco explorada (Magnolo e Galán-Pérez 2024). Esta lacuna resulta, em parte, da ausência de um inventário sistemático das colecções, de falta de ferramentas adequadas para a caraterização material destes instrumentos, da evolução do conceito de conservação e da insuficiência de diálogo interdisciplinar necessário para explorar o potencial dos instrumentos científicos no estudo da investigação científica (Lourenço e Wilson 2013).
No que diz respeito à conservação de instrumentos, durante décadas a tónica foi colocada sobretudo na preservação da aparência e funcionalidade originais, muitas vezes em detrimento do seu valor histórico e científico (Lemos e Tissot 2020). Em inúmeros casos, esta abordagem resultou na perda irreversível de caraterísticas originais, como marcas de uso e desgaste. No entanto, estes vestígios materiais são fundamentais para a recolha de informação única sobre a utilização dos instrumentos em contextos específicos e práticas experimentais associadas. Esta informação surge da interação entre o instrumento e o indivíduo que o operou, tornando essencial a sua identificação, interpretação, documentação e preservação no âmbito da sua conservação e preservação.
Com base em vários casos de estudos, este seminário explora como as metodologias interdisciplinares aplicadas às actuais práticas de conservação podem enriquecer o estudo das práticas científicas, destacando tanto o potencial como as limitações destas novas abordagens.
Referências
Lemos, M., & Tissot, I. (2020). Reflections on the conservation challenges of scientific and technological objects. Conservar Património, 33, 24–31. https://doi.org/10.14568/cp2018044
Lourenço, M. C., & Wilson, L. (2013). Scientific heritage: reflections on its nature and new approaches to preservation, study and access. Studies in History and Philosophy of Science Part A, 44, 744–753. https://doi.org/10.1016/j.shpsa.2013.07.011
Magnolo, S., & Galán-Pérez, A. (2024). Theoretical perspectives: sociology and the conservation of scientific heritage. Frontiers in Sociology, 9, 1473206. https://doi.org/10.3389/fsoc.2024.1473206
Ramos Carrillo, A., Moreno Toral, E., & Ruiz Altaba, R. (2024). Historical-scientific heritage and the university: the two pillars of the History of Pharmacy collection in the Faculty of Pharmacy of the University of Seville. Conservar Património, 45, 36–49. https://doi.org/10.14568/cp28835
Suay-Matallana, I. (2019). The material culture of the customs laboratory of Lisbon. Conservar Património, 30, 131–139. https://doi.org/10.14568/cp2018001
A Oradora
Isabel Tissot é conservadora-restauradora de metais e investigadora do LIBPhys da Universidade NOVA de Lisboa. A sua investigação centra-se no desenvolvimento de estratégias analíticas e de conservação para o estudo e preservação do património metálico, com particular ênfase em objectos de património industrial, científico e técnico.
É doutorada em Engenharia Física e mestre em Electroquímica Aplicada pela Universidade de Lisboa. É licenciada em Conservação-Restauro pela NOVA FCT e bacharel pela antiga Escola Superior de Conservação-Restauro de Lisboa. Recebeu uma bolsa de investigação da Fundação Calouste Gulbenkian para estudar conservação no Institut Royal du Patrimoine Artistique (IRPA-KIK), na Bélgica.
Durante mais de 20 anos, Isabel trabalhou como conservadora, tanto no sector público, como no privado. Trabalhou como investigadora na equipa de I&D da Haute-École Conservation-Restauration, na Suíça e como conservadora no antigo Instituto Português de Conservação e Restauro (actual Laboratório Instituto José de Figueiredo) e na empresa Archeofactu, em Portugal. Como professora assistente convidada, Isabel leccionou conservação de metais no Instituto Politécnico de Tomar e na Universidade Católica Portuguesa. Actualmente também leciona na NOVA FCT.
Isabel está determinada a promover a salvaguarda do património industrial, científico e técnico. O seu objetivo é valorizar este património, destacando e preservando tanto as suas dimensões tangíveis quanto intangíveis, de forma interdisciplinar