Anopheles bifurcatus var. portucaliensis Figueiredo, 1904, um contributo para a Entomologia Médica em Portugal
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Edifício C8, Sala 8.2.02.
18 maio 2017 · 18h00
Sinopse
Na sequência da instituição da teoria parasitária da malária, no final do século XIX, desenvolvida por Patrick Manson (1844-1922), Ronald Ross (1857-1932), Giovanni Battista Grassi (1854-1925), Giuseppe Bastianelli (1862-1959) e Amico Bignami (1862-1929), que determinou a definição de campanhas sanitárias contra a doença, nas colónias europeias e nos países do sul da Europa, a epidemiologia da malária e o conhecimento dos insectos potencialmente seus vectores assumiram um papel de destaque. A determinação das espécies, a sua prevalência e capacidade de transmissão revelava-se fundamental para o conhecimento detalhado da doença e naturalmente para o seu combate, no seio da comunidade médica internacional, na qual Portugal se viria a incluir.
No seguimento do estudo epidemiológico iniciado em Portugal por Ricardo Jorge (1858-1939) em 1902, António Carvalho de Figueiredo (1853-1917) dedicou-se ao estudo dos mosquitos em Loures que acreditava serem responsáveis pelo foco de malária naquela cidade, descrevendo assim uma nova variedade de mosquito, o Anopheles bifurcatus var.portucaliensis, em 1904.
Figueiredo era médico do município de Loures, formado pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa e foi colega de Luíz da Câmara Pestana no laboratório bacteriológico de Lisboa sediado no hospital de S. José, por onde passaram vários investigadores que se notabilizariam mais tarde, no Instituto Bacteriológico Câmara Pestana, como pioneiros da microbiologia em Portugal. No Hospital de S. José inteirou-se das técnicas microbiológicas desenvolvidas que serviram para dar resposta às epidemias que atingiram Lisboa, em 1894, e o Porto, em 1899, o que lhe terá despertado o interesse no estudo da malária. Terá sido determinante a importância que Miguel Bombarda atribuía à investigação e ao combate à malária, nos discursos que realizou na Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, a partir de 1899. A partir de 1902, terá ainda sido decisivo, para a aposta de Figueiredo no estudo dos vectores responsáveis pela transmissão da doença, o inquérito epidemiológico e o mapeamento da malária levado a cabo por Ricardo Jorge, que incitava à declaração de casos clínicos e à realização de trabalhos complementares que contribuíssem para a solução desta doença.
Partindo da análise das fontes bibliográficas primárias e secundárias disponíveis, bem como dos catálogos de mosquitos e da sua organização taxonómica, este trabalho pretende reflectir sobre o lugar das contribuições de Figueiredo para a entomologia médica, alinhadas com o novo modelo parasitológico de doença, particularmente no âmbito da nomenclatura taxonómica no século XX.
Sobre a oradora
Ana Rita Merelo Lobo é investigadora de pós-doutoramento do CIUHCT. Os seus interesses de investigação no âmbito da história da ciência circulam em torno da história da medicina tropical e da história da malária em Portugal e nas colónias portuguesas, desenvolvendo actualmente o seu projecto de pesquisa sobre a história da entomologia médica e da medicina tropical em Portugal.