Demasiado para contar? Modos narrativos nas primeiras descrições do mundo natural "das Índias"

Um breve relance pelos mais importantes textos quinhentistas que tentam descrições do mundo natural da América ou da Ásia (Oviedo, Monardes, Acosta, Orta, etc) revela de imediato que esses textos apresentam características muito diferentes dos da tradição de história natural anterior, mas também da posterior. 

O que nos ocupará nesta apresentação não é tanto o problema com que esses autores se depararam (já muitas vezes analisado) de descrever "coisas novas" ou factos excepcionais -- com as dificuldades cognitivas e epistemológicas que isso levantou -- mas sobretudo a necessidade de explicitar uma abundância e uma coerência que pudesse justificar a afirmação de que os novos locais constituíam um "mundo". Pretendemos mostrar que este problema obrigou não apenas ao afastamento das formas clássicas de descrição da realidade natural (segundo a prescrição pliniana ou aristotélica, por exemplo) mas levou a que esses autores tivessem que recorrer a processos narrativos peculiares. Importa ainda analisar o modo como estes processos estiveram influenciados pela formação médica que quase todos os autores em apreço tinham recebido. Esta comunicação é parte de um projecto de investigação mais vasto, feito em colaboração com Antonio Sánchez (CIUHCT).