Luís Ribeiro vence Prémio FCiências.ID 2021
13 April 2022
A tese de Luís Ribeiro, com o título Transgressing boundaries? Jesuits, astrology and culture in Portugal (1590-1759), orientada por Henrique Leitão e Charles Burnett, foi a vencedora do Prémio FCiências.ID de 2021, no domínio da História e Filosofia das Ciências.
Mais sobre a tese
Esta tese estuda a pratica e o ensino da astrologia pela Companhia de Jesus nos seculos XVI, XVII e principio do XVIII. Numa primeira analise esta ligação parece inesperada pois a astrologia não era vista favoravelmente pela Igreja e os Jesuítas, uma das ordens mais poderosas da contrarreforma, e firmes defensores da ortodoxia. Com base nesta premissa, muitos historiadores assumiram que o fervor religioso dos jesuítas seria acompanhado por uma igualmente intensa rejeição da astrologia. Esta noção era aparentemente consolidada por publicações anti-astrológicas de autores da Companhia. No entanto, um estudo detalhado de textos e ensinamentos jesuítas sobre a astrologia revelam uma atitude de maior aceitação deste assunto. Este estudo mostra que embora alguns membros da Companhia tivessem uma postura anti-astrológica de base religiosa, outros aceitavam-na como um conhecimento valido, compatível com os limites estabelecidos pela teologia tomista e pelas regras do Índex e das bulas papais (1586 e 1631). Esta aceitação da astrologia e mais evidente entre os astrónomos jesuítas, que a consideravam parte do corpus cientifico pré-moderno, no contexto das ciências matemáticas. Embora presente de forma mais discreta nos textos impressos, e no corpus de manuscritos científicos jesuítas que esta postura se torna plenamente evidente. No centro do presente estudo estão as sebentas de astrologia lecionadas na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, uma das principais instituições Jesuítas de ensino em Portugal. Aqui a astrologia foi ensinada em conjunto com outras ciências matemáticas, como a astronomia e a navegação. Paralelamente a estas lições foram também analisados outros documentos astrológicos jesuítas originários da Europa, do Extremo Oriente e do Novo Mundo. Este grupo documental permitiu uma visão detalhada das relações dos jesuítas com a astrologia, incluindo textos defendendo a sua pratica, um currículo jesuíta de astrologia ajustado a pratica religiosa, e vários exemplos de julgamentos astrológicos feitos por membros da Companhia. A primeira parte da tese oferece uma visão da astrologia neste período: a sua pratica, as mudanças e divulgação impulsionadas pelo advento da imprensa, os grandes debates antiastrológicos, e a crescente marginalização no final do seculo XVII. Na segunda parte são abordadas as opiniões dos Jesuítas em relação ao tema: os textos anti-astrológicos, os argumentos teológicos e o seu posicionamento no discurso cientifico pela voz dos matemáticos e astrónomos da Ordem. A terceira parte aborda as lições de astrologia da Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão, demonstrando que estas faziam claramente parte do currículo publico do colégio. Em seguida e apresentado um estudo detalhado do programa das aulas de astrologia, revelando as suas especificidades cientificas e adequação religiosa. A quarta e ultima parte apresenta alguns exemplos de juízos astrológicos por autores jesuítas demonstrando que o seu uso da astrologia não se restringia a reflexão teórica e ao ensino, estendendo-se também a prática. Desta analise resulta uma nova visão da relação dos jesuítas com a astrologia, colocando esta pratica como parte integrante do corpus de conhecimentos estudados pela ciência jesuíta.