CIA, ciência política e geografia na periferia global: Gerald Bender vs. David Niddrie em Angola
Instituto de Ciências Sociais, Sala 3
15 janeiro 2020 · 12h30
Sinopse
São poucos os estudos atuais que, ao tratarem sobre a Angola colonial e pós-colonial, não refiram o trabalho seminal do cientista político africanista Gerald J. Bender, em especial o seu Angola under the Portuguese: The Myth and the Reality. Baseado numa rede de fontes mais ou menos conservadoras, esse trabalho foi acompanhado de perto pela polícia política portuguesa e ultramarina, mas também pela CIA e por várias instâncias de controlo transnacional. Neste working paper, procuro compreender a posição de Bender, enquanto intelectual global, a respeito da sua análise aos aldeamentos estratégicos criados pelos militares e autoridades coloniais portuguesas em Angola, entre 1961 e 1974. A sua interpretação acerca dos esquemas de concentração de milhares de indivíduos nos vários distritos angolanos, publicada na Comparative Politics, resultou no contributo pioneiro do caso Angolano para a ciência política internacional. O que explica este sucesso? Comparando a posição de Bender com a de um outro reputado académico americano, o geógrafo David Niddrie, - que propôs uma leitura bem diferente dos novos aldeamentos – tento explicar de que forma as representações desses processos de deslocação e reassentamento populacional, tratados hoje como variáveis empíricas, foram, na verdade, moldados por políticas deliberadas de controlo científico (uma norte-americana e outra portuguesa) e por estratégias editoriais distintas.