Ciência e diplomacia na corte de D. João V: a acção de João Baptista Carbone, 1722-1750
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Edifício C6, Sala 6.2.56
06 outubro 2017 · 14h30
Tipo de prova
Doutoramento em História e Filosofia das Ciências (FCUL)
Resumo
Desde a chegada a Lisboa, em Setembro de 1722, até à sua morte em Abril de 1750 o jesuíta napolitano Giovanni Battista Carbone/João Baptista Carbone (1694-1750) foi, na corte de Dom João V (r. 1707-1750), o fulcro de uma significativa actividade científica e político-diplomática. A sua jornada para Lisboa, com o companheiro Domenico Capacci, prendia-se com a execução de uma missão cartográfica na América Portuguesa, mas Carbone nunca abandonou a metrópole depois de o monarca se deixar impressionar pelas suas qualidades pessoais. No Verão de 1722 tinha estudado no Colégio Romano, a escola mais emblemática da Companhia, com o professor de matemática Orazio Borgondio. Chegado a Portugal, e reflectindo o novo espírito iluminista do rigor e quantificação promovido pelo rei (o espri géometrique, como lhe chamou Fontenelle), o que restava da década de 1720 foi dedicado a observações astronómicas de precisão, com vista a determinar exactamente as coordenadas geográficas de Lisboa. Essas observações, realizadas por vezes em público e na presença do soberano, exprimiam o gosto barroco pela festa, a teatralidade e a ostentação; mas revelavam igualmente a nova racionalidade abraçada pelo Iluminismo Católico, de que o padre Carbone foi manifesta expressão. Se em Lisboa as observações astronómicas dos jesuítas ajudaram a construir a imagem de um rei esclarecido e amante das ciências, reforçando simbolicamente o prestígio da monarquia portuguesa, no Brasil proporcionaram medições geodésicas que melhoraram a cartografia, o controlo e o conhecimento do território. Na China permitiram a continuidade dos missionários na corte de Pequim e na Índia o reforço de relações diplomáticas com o marajá Jai Singh II. Ou seja, na primeira metade do século XVIII português a astronomia constituiu-se como uma complexa, multifacetada e multifuncional ferramenta do poder, assumindo João Baptista Carbone papel de charneira, enquanto perito nas matemáticas e agente político ao serviço de Dom João V, da Companhia de Jesus e do Papa. Mostra-se nesta dissertação que no percurso biográfico do inaciano e matemático régio as duas facetas, a científica e a diplomática, estiveram profundamente imbricadas, representando a sua acção a corporização da relação simbiótica, e de partilha de interesses, estabelecida entre a diplomacia e as ciências/técnicas na Idade Moderna.