A Academia Real das Ciências de Lisboa (1779-1834): ciências e hibridismo numa periferia europeia
Faculdade de Ciências da Universiade de Lisboa, Edifício C6, Sala 6.2.56
18 abril 2015 · 14h00
Tipo de prova
Doutoramento em História e Filosofia das Ciências (FCUL)
Resumo
A Academia Real das Ciências de Lisboa tem ocupado um lugar subsidiário, às vezes até ornamental, quando não está mesmo ausente, da narrativa historiográfica em geral e da história das ciências em particular. A presente dissertação tem como propósito caracterizar o processo de produção e organização das ciências numa periferia europeia, protagonizado pela Academia Real das Ciências de Lisboa no período que decorre desde a sua fundação, em 1779, até à sua primeira reforma estatutária, em 1834. As evidências recolhidas passaram, em primeiro lugar, pela determinação da configuração social e profissional dos seus sócios e da sua evolução ao longo dos primeiros cinquenta anos de funcionamento da Academia. Em segundo lugar, pela articulação desses resultados com as linhas programáticas da Academia que emergem da análise quer dos textos impressos não periódicos, quer da sua publicação periódica de maior longevidade, a História e Memórias da Academia Real das Sciencias de Lisboa. Em terceiro lugar, pelo recenseamento e análise dos programas postos a concurso pela Academia para atribuição de prémios, dos prémios atribuídos, bem como das comissões técnico-científica sem que a Academia esteve envolvida de modo a esclarecer a sua relação com o poder através da sua função de consultoria técnico-científica. Com base nas evidências recolhidas foi então possível chegar a um conjunto de conclusões que passamos a enunciar. A estrutura e prática programáticas da Academia resultaram de processos de apropriação e transformação de modelos e programas preexistentes de produção e organização do conhecimento, integrados por variáveis de natureza social e política específicas do contexto local em que a Academia emergiu. A sua configuração socioprofissional, inicialmente marcada por um contexto de final de Antigo Regime, sofreu uma viragem geracional indutora de uma concomitante viragem nas respetivas opções programáticas. A condição de periferia europeia da Academia, conjugada com a de centralidade colonial, permitiram explicar a sua rede de associados luso-brasileiros, bem como o seu próprio perfil programático. Os primeiros cinquenta anos do funcionamento da Academia Real das Ciências foram caracterizados por um hibridismo programático-subjacente ao qual existia um entendimento polissémico das “Ciências” que constituíam o objeto da Academia - indexável a transfigurações na natureza programática da Academia. Sociedade económica, sociedade médica, repartição governamental foram os sucessivos rostos dessas diferentes transfigurações que marcaram o percurso programático da Academia Real das Ciências de Lisboa nos primeiros cinquenta anos da sua existência.
Palavras-chave
Academia, periferia, apropriação, hibridismo, polissemia
Constituição do júri
- Doutor José Manuel de Nunes Vicente e Rebordão (Presidente, por subdelegação de competências), Investigador Coordenador e Subdiretor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
- Doutor José Luís Cardoso (Arguente), Investigador Coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
- Doutor Antonio Lafuente García (Arguente), Investigador, CSIC (Consejo Superior de Investigaciones Científicas-Spanish National Research Council), CCHS-Instituto de Historia Department Calle de Albasanz, España
- Doutor Francisco José Rogado Contente Domingues, (Vogal), Professor Catedrático do Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
- Doutora Palmira Fontes da Costa, (Vogal), Professora Auxiliar do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa
- Doutora Laurinda Faria Santos Abreu, (Vogal), Professora Auxiliar com Agregação do Departamento de História da Universidade de Évora
- Doutora Ana Simões (Orientadora), Professora Associada com Agregação, Secção Autónoma História e Filosofia das Ciências, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa